TIPOFOTO

Rita Bastos

 

Tipofoto é um conceito criado em 1925 por Moholy-Nagy, que é definido por este autor como 'la información representada visualmente de la manera más precisa', que surge da junção das palavras tipografia e fotografia — tipografia é 'una información traducida a caracteres de impresión' e fotografia é 'la representación visual de lo ópticamente perceptible' (1985, p. 95). Tipofoto surge como um conceito que, fazendo uso do conhecimento profundo de duas áreas distintas (tipografia e fotografia), procura encontrar uma relação de equilíbrio entre a necessidade permanente de comunicação de uma imagem e a descodificação de mensagens complexas, considerando sempre o aspecto gráfico e visual.

 

 

TIPOGRAFIA, DESIGN E FILOSOFIA

reflexões sobre o projeto Léon Regular, sua estrutura, formulação, aplicação e leitura.

João Batista Moreira Corrêa

 

O presente artigo investiga, a partir da análise do Setting Tipográfico digital León Regular, questões emergentes no campo do design na atualidade. Este projeto foi criado para a 6ª Bienal Latinoamericana de Tipografia baseado nas obras “Vocabulário e Kama-Sutra II”, do artista León Ferrari. No texto, são examinados os elementos formais dos desenhos do artista para revelar sua estrutura e formulação, conceituando-os como pattern/ padrão. As ideias de repetição e modularidade que se desdobram desta discussão são expostas às ideias de apreensão mimética e semelhança-extra sensível em Walter Benjamin para potencializar as reflexões sobre a aplicação e leitura da tipografia. Este texto procura, sob diretrizes transdisciplinares, ampliar o discurso do designer em seus projetos, buscando na filosofia argumentos e possibilidades que fundamentem o seu olhar crítico.O presente artigo investiga, a partir da análise do Setting Tipográfico digital León Regular, questões emergentes no campo do design na atualidade. Este projeto foi criado para a 6ª Bienal Latinoamericana de Tipografia baseado nas obras “Vocabulário e Kama-Sutra II”, do artista León Ferrari. No texto, são examinados os elementos formais dos desenhos do artista para revelar sua estrutura e formulação, conceituando-os como pattern/ padrão. As ideias de repetição e modularidade que se desdobram desta discussão são expostas às ideias de apreensão mimética e semelhança-extra sensível em Walter Benjamin para potencializar as reflexões sobre a aplicação e leitura da tipografia. Este texto procura, sob diretrizes transdisciplinares, ampliar o discurso do designer em seus projetos, buscando na filosofia argumentos e possibilidades que fundamentem o seu olhar crítico.

 

 

[TATU]GRAFIA

(do inglês "Tattoo", e do grego "graphein", escrever)

Susana Azevedo

 

O presente artigo surge no âmbito de desenvolvimento de tese de Doutoramento em Design. Valores individuais e colectivos de uma determinada era geracional, capaz de agregar novos desenhos de letra e novos significados, aumentam as habilidades de comunicação da mensagem escrita. Graças à faculdade comunicativa dos seres humanos, os individuos trocam mensagens escritas tanto pessoais, como provenientes do seu meio social, que nos permite construir uma representação visual, em que se entende a comunicação escrita por meio de signos tipográficos, como um fenómeno cultural, em que as regras da comunicação são portanto, as de uma determinada cultura que fornecem ao individuo a capacidade de expressar os seus interesses e referenciar os espaços sociais a que pertence.

 

Atuando como formas de expressão da própria cultura, os sinais tipográficos são autênticos mediadores entre o homem e a sociedade e, por sua vez, entre os próprios individuos, nesta investigação, indo mais além do que o suporte simples de transporte destas informações. Com a proliferação dos estúdios de tatuagem e com os conhecimentos académicos adquiridos em cursos artísticos, procura-se investigar a relevância da tipografia/caligrafia nas tatuagens escritas a partir da inscrição de marcas no corpo, concebidas por estes produtores. O número de pessoas tatuadas tem vindo a aumentar significativamente, o que revela a importância da respectiva profissão e a relação direta que esta mantém com o Design. Em Portugal, esta profissão é relativamente recente. Somente no final da década de 90 é que começam a surgir estúdios para a produção desta prática, tornando a profissão pública, deixando esta portanto, a clandestinidade.

 

Este estudo apoia-se em dados recolhidos, por intermédio de entrevistas e respectivos registos fotográficos, a vinte cidadãos portugueses, consumidores de tatuagens escritas, nascidos entre os anos 60’ e 90’, e a vinte tatuadores, em dezoito estúdios distribuídos de norte a sul de Portugal continental. Compreender as motivações e percepções destes produtores acerca da execução de desenhos de comunicação direta - os caracteres - inscritos definitivamente num suporte mutável e vivo – a pele. Perante o trabalho de campo, tendo sido utilizada a entrevista como instrumento de avaliação, este estudo objetiva reter o discurso do Tatuador, a sua breve história, o seu conhecimento (técnico e artístico) e a forma como comunica com os seus clientes, aconselhando-os a determinada localização corporal e qual o registo criativo dos caracteres a tatuar. Tal como, o significado semântico das respectivas tatuagens e a composição que estas podem formar entre si. A tatuagem escrita representa nos dias de hoje, uma “autobiografia” de sentimentos, nomes, excertos de textos, etc. e a escrita ocidental é a que mais se evidencia dentro da geração adulta mais jovem, conotada como tendência de moda no seio urbano.

 

 

A LETRA UBÍQUA DA FLORESTA

Sérgio Antônio Silva, Maria Inês Almeida and Paula Cristina Pereira Silva.

 

Este artigo insere-se no campo da teoria e estudos da escrita. Formalmente, divide-se em duas partes. Na primeira parte, aborda a questão do uso atual da escrita latina por povos indígenas no Brasil, a partir, especificamente, da experiência, assegurada pela Constituição brasileira de 1988, de cursos de formação de professores indígenas no estado de Minas Gerais e os respectivos produtos advindos desses cursos, tais como livros, cartilhas, vídeos, blogs, sítios. Servem de corpus de análise publicações, sobretudo nos meios de comunicação impressos, dos maxacalis, xacriabás, krenaks e pataxós, quatro etnias que têm suas aldeias em Minas Gerais. A intenção, para além da análise dessa literatura indígena e seus produtos, é pensar a relação dos índios com a escrita, num sentido amplo, e com a tipografia, em especial, a partir das ideias de tradução e troca intercultural e do que, no texto, com base na bibliografia citada, nomeamos o espírito da letra, a escrita em sua literalidade, capaz de comunicar num outro nível, que não o da palavra, do discurso de ordem, de tipificação, que a noção de escrita – ou, mais diretamente, de tipografia, traz consigo. Na segunda parte, de cunho mais aplicado, o artigo se volta para o campo do design de tipos, analisando problemas de uso de tipografias em línguas indígenas. Para isso, tem como referência, por um lado, um estudo crítico-analítico e, de outro lado, um projeto de uma tipografia recentemente desenvolvido com o intuito de servir também a línguas indígenas. Finalmente, o artigo procura aliar as duas partes, apontando as demandas que persistem no âmbito da tipografia para edições contemporâneas de povos indígenas no Brasil e ressaltando a importância da participação dos índios, eles próprios, que já se apropriaram dos meios de comunicação ubíqua do mundo contemporâneo, na criação e produção, com o uso de ferramentas digitais e com base nos preceitos tradicionais dessa área, de novas tipografias.